EXCLUSIVO: ENTREVISTA COM JULIANO RAMOS, PROPRIETÁRIO DE LOTEAMENTO ARREMATADO POR LEILÃO SUSPEITO EM AGROLÂNDIA

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Ainda sob suspeita, o leilão que culminou com o arremate de uma área considerável na região conhecida como “Barra do Tigre”, na divisa entre os municípios de Trombudo Central e Agrolândia, ainda levanta muitas dúvidas. Principalmente em relação à forma como foi tratada uma dívida bancária, inicialmente pequena, mas que acabou por se tornar um grande tormento na vida de uma família tradicional do município de Agrolândia, localizado na microrregião de Rio do Sul.

Como bancos normalmente representam o “poder econômico” e muito pouca (ou nenhuma) satisfação dão a quem quer que seja, às vezes no melhor estilo “que se exploda o mundo e quem nele estiver”, a Folha do Estado procurou o proprietário do loteamento arrematado no “famoso” leilão que ainda gera muita polêmica e dúvidas, além de trazer sob os holofotes da justiça, um imbróglio que tem tudo para se tornar gigantesco, com muitas ações de vários lados, tendo ainda “muita água para rolar debaixo da ponte”, segundo afirmou um causídico à nossa redação recentemente.

Tem todo o enredo para tirar o sono tanto de juízes e promotores locais pelo possível envolvimento futuro de políticos e órgãos públicos, sem contar a própria instituição bancária e a empresa arrematante, ou seja, uma verdadeira “salada mista, um atoleiro jurídico, um emaranhado tão grande que poderá levar vários anos para se desenrolar, tanto no TJ como no STJ ou mesmo no STF”, segundo afirmaram membros da ONG Olho Vivo à Folha do Estado, estando inclusive o CNJ na linha de visão da ONG catarinense que atua a nível nacional e foi a única instituição do gênero no País a receber recursos do Google, devido ao reconhecimento de sua atuação e importância.

Mas, imbróglio à parte, procuramos o senhor Juliano Ramos, proprietário da área leiloada por cerca de R$ 460 mil, e cuja dívida com o Banco Bradesco era inicialmente de R$ 80 mil.

Juliano Ramos

Ainda visivelmente abalado pela situação, Juliano Ramos concordou em dar entrevista à Folha para, além de reiterar o que já havia dito anteriormente em matéria publicada pela Folha do Estado, trazer à tona mais informações:

Folha do Estado: O senhor fez um financiamento no Banco Bradesco de cerca de R$ 80 mil e deu uma área de terra equivalente ao loteamento, em valor muito superior, como garantia. O que aconteceu para que a dívida não fosse paga totalmente? 

Juliano Ramos: Sobre o loteamento, eu fiz um financiamento no Bradesco de Agrolândia em 2010, peguei 80 mil e pagava R$ 2.200 mil por mês, parcelado em 10 anos”. Daí chegou numa altura que eu acabei me “trancando”. Eu tinha uma loja de roupas, vendia com prazo e parcelado, aí foi ficando muito boleto e cheque sem eu receber e foi me “trancando”, eu fui me apertando e, em 2016 veio à crise e ali me judiou mais ainda.

Folha do Estado: Mas o senhor pagou cerca de quanto ao banco? Tentou renegociar a dívida?

Juliano Ramos: Sim, fui pagando como dava, fui renegociando com o banco, tentando entrar em contato para ir acertando. Chegou uma altura que eu já tinha pago uns R$ 160 mil da dívida e o gerente dizia que eu ainda devia uns R$ 110 mil. Eu tinha umas parcelas em atraso com eles, fiz um acordo e paguei o boleto de R$ 4 mil reais e eles nem deram baixa no boleto e continuaram me cobrando ainda as parcelas desse boleto.

Folha do Estado: Como a dívida foi acabar em leilão?

Juliano Ramos: Eles diziam que eu tinha que pagar um valor lá para mim acertar e renegociar com eles. Daí ao mesmo tempo, quando veio a pandemia em março de 2020, que eu tinha algumas parcelas em atraso, eles vieram e mandaram direto para leilão.

Folha do Estado: Como o senhor ficou sabendo do leilão?

Juliano Ramos: Veio uma notificação do cartório que eu tinha prazo para pagar, só isso. Mas depois eu não fui notificado de leilão ou de qualquer outra coisa, não fui notificado de mais nada. Eu só soube do leilão através do Maquito, de Trombudo Central, porque eu tinha vendido um terreno para ele e ele me avisou que já estava para ser leiloado, que estavam vendendo o loteamento, uma semana depois já ia ser vendido.

Folha do Estado: E o senhor tentou fazer algo para evitar esse leilão quando soube?

Juliano Ramos: Sim. Uns advogados de São Paulo me ligaram dizendo que sabiam que a minha propriedade iria para leilão e que eles eram especializados nisso e que iriam que era para entrar na justiça e derrubar o leilão, que eles eram especialistas em leilão e tudo o mais. Aí entramos na justiça e o juiz disse que não tinha necessidade de derrubar o leilão porque eu tinha tempo para ir negociando. Mas não saiu nada.

Folha do Estado: Como assim, não tinha necessidade de derrubar o leilão?

Juliano Ramos: Pelo menos foi o que eu entendi que os advogados disseram.

Folha do Estado: E seus advogados não fizeram mais nada?

Juliano Ramos: Não fizeram mais nada. Eu até tentei falar com eles mas já nem me respondiam mais. Eu fiquei “perdido, sem pai nem mãe” nesse caso. Não pude derrubar o leilão e perdi a área.

Folha do Estado: Os moradores da área tentaram também alguma coisa para ajudar?

Juliano Ramos: Sim, tentaram de tudo. O pessoal que eu vendi uns terrenos se uniram para tentar derrubar o leilão, e também para irmos atrás de um acordo com o banco. Tentamos fazer um acordo com o banco para pagar a dívida, mas não teve negociação, foi para leilão e não quiseram negociação.

Folha do Estado: Depois que não teve negociação com o banco, o aconteceu?

Juliano Ramos: Como não teve negociação, a gente se reuniu, o pessoal todo, para tentar arrematar no leilão e negociar na justiça, mas também não conseguimos, porque o gerente do banco entrou em contato oferecendo para várias empresas para entrar no leilão junto para arrematar o loteamento, então foi um valor alto que eles quiseram. No começo eles avaliaram em R$ 2 milhões e 700 mil o loteamento.

Folha do Estado: Mas venderam nesse preço?

Juliano Ramos: Não. Eles venderam no leilão por R$ 460 mil mais o valor do leiloeiro.

Folha do Estado: Mas soubemos que a empresa que arrematou por cerca de R$ 460 mil teria colocado à venda em seguida por um valor menor, isso é verdade?

Juliano Ramos: Dias depois do leilão, estava para vender por um valor menor do que pagaram, tirando o leiloeiro. Então, eu suspeito que tinha muito “chuncho” no meio, e eu não consegui mais ter contato até hoje.

Meus advogados “sumiram” do mapa, tentei entrar em contato com eles e não me responderam mais. Então no fim ainda me “ferrei” com isso, a gente tentando fazer o acordo e não conseguindo.

Folha do Estado: O senhor também reclama da falta de apoio ou “sensibilidade” do Banco Bradesco, por quê?

Juliano Ramos: Em 2016 quando veio a crise eu consegui pagar uma parte e ficou mais uma parte. Eu estava tentando negociar como dava e aí veio a pandemia e aí me prejudicou tudo, porque fechou os bancos por uns dias e depois quando voltou, já voltou dizendo que não existia mais acordo para fazer pra mim. Mas eu nunca fui notificado de que já ia para leilão, de que eu tinha direito de comprar o loteamento, nada, nada… Me parece que foi feito “ás escuras”.

O pessoal, a gente se reuniu, meu pai também, tentando ajudar para a gente resolver, para ajudar. Inclusive meu pai tentou falar com o gerente do banco na pandemia e não conseguiu. Aí ele pediu ajuda do dono do prédio onde está o Bradesco para ele ligar para o gerente e meu pai falar com ele. Mas todas as nossas tentativas não deram em nada, parecia que não havia interesse do banco em negociar e receber.

Olha, eu tentei, meu pai tentou, os moradores tentaram, mas o banco não tinha acordo.

Folha do Estado: E como foi para tentarem arrematar em leilão?

Juliano Ramos: Eu já estava bem complicado de dinheiro nessa época e o pessoal que eu vendi os terrenos tentaram se unir para arrematar no leilão para a gente ir resolvendo, e a justiça nunca deu direito para a gente de nada. Já transferiram o terreno “para o nome” do pessoal que comprou no leilão, eu não conheço, mas dizem que é de Xanxerê. Então a gente ficou de mãos atadas.

Folha do Estado: O senhor acha que fez o seu máximo nesse caso?

Juliano Ramos: Com certeza. Fizemos tudo o que a gente podia. Não entendi o porquê de não sermos sequer ouvidos. Parecia que não havia interesse, sei lá. Acho que algo poderia estar acontecendo que a gente não sabia. Não entendi como a área foi para leilão sem eu ser informado. Só fui saber por terceiros.

A gente fez o que pode. Eu tentei fazer várias tentativas de negociação com eles para a gente fazer acertos, mas não tive sucesso. Eu fiquei com muita vergonha também do pessoal porque eu não consegui pagar tudo, e aí já estavam cobrando bem mais do financiamento, porque eu paguei o capital e mais um pouco, e para nós eles não deram a chance, não teve jeito.

Folha do Estado: Soubemos que, inclusive, os moradores e donos de terrenos da área teriam tentado pagar a dívida do banco…

Juliano Ramos: Sim. O pessoal se uniu e disseram que iam conseguir os R$ 110 mil que o banco queria para quitar a dívida. Mas não teve acordo. Nunca ninguém deu a chance para a gente quitar, mesmo com todo mundo tentando me ajudar, o pessoal que eu vendi os terrenos.

E o banco nunca deu chance para a gente conseguir quitar, para acertar as coisas. Eles só diziam que não tinha mais acordo e queriam vender no leilão “por toda a lei”. Por isso também eu me sinto muito mal e injustiçado. Acho que tinha algo estranho em tudo isso.

Folha do Estado: Com a crise e a pandemia, o senhor teve dificuldades financeiras como nos explicou. Mas o senhor tem uma empresa. A sua empresa também teve dificuldades? O senhor sempre tentou resolver a situação?

Juliano Ramos: Eu e minha família moramos há muito tempo aqui. Todos nos conhecem. Meu pai tentou me ajudar, os moradores e donos dos terrenos também, mas parecia que uma coisa estranha nos impedia, não nos deixava resolver. Como disse, até agora estou mal e morrendo de vergonha com tudo isso.

Eu sempre tive interesse em acertar as coisas, em pagar. Eu vendi uns terrenos e investi nas lojas. Eu tinha duas lojas de roupas e vendia para lojistas, comprava e revendia e o lucro era bom. Então eu pensei em ir investindo no loteamento e quitando a dívida com o banco.

Mas fiquei “trancado” porque não consegui receber muito dinheiro, tenho R$ 120 mil para receber em boletos e uns R$ 160 mil em cheques que até hoje eu não consegui receber. Se tivesse recebido tudo, teria pago a dívida e sobrava dinheiro. Mas até agora estou com esses valores sem entrar na empresa. Não consigo receber.

Daí o pessoal que eu vendi os terrenos se uniram para me ajudar, para a gente quitar a dívida com o banco e resolver tudo, mas o pessoal do banco não deu chance. Não existia acordo com eles!

Eu nunca fiz nada para lograr ninguém. Tanto que quando eu não consegui mais pagar as parcelas, o pessoal se uniu para me ajudar a quitar. Mas essa oportunidade a gente nunca teve. Eles entraram na justiça e tudo, mas a gente nunca conseguiu nada.

Folha do Estado: No ano passado o senhor tentou alguma negociação com o banco?

Juliano Ramos: Essa dívida que eu tinha, quando eu tentei fazer um acerto, em março do ano passado quando veio a pandemia. Aí tinha uma outra dívida de R$ 30 mil reais da minha empresa, porque eu não estava recebendo dos credores e não conseguia pagar.

Daí o gerente só fazia um acordo ainda se eu arrumasse o dinheiro para dar entrada e parcelar, se eu desse entrada e parcelasse a outra minha dívida. Eu tive que dar uma parte ainda da outra dívida.

Ele me trancou de um jeito que eu tinha que pagar as duas dívidas senão eu ia perder o loteamento. Então eles tentavam me amarrar desse tipo e eu não conseguia receber dos meus credores e pagar a dívida, mas também o pessoal que eu vendi os terrenos não tiveram a chance de fazer um acordo e quitar a minha dívida.

Folha do Estado: Para finalizar, como o senhor se sente diante de tudo isso que nos narrou?

Juliano Ramos: Não sou um cara com muito estudo, mas sei que eu nunca quis prejudicar ninguém. Minha palavra sempre valeu. Eu fico às vezes pensando em tudo isso e dá vontade de chorar. Não só pela vergonha. Mas de raiva de como tudo aconteceu. Me sinto muito mal.

Dói ver tudo o que aconteceu, nem tanto pela terra, mas por ter muitas pessoas que confiaram em mim comprando um terreno lá e depois acontecer tudo isso e ir pra leilão. Ainda não acredito no que aconteceu.

Isso me tira o sono todos os dias. Se coloca no meu lugar: Tenho uma empresa com muito dinheiro sem receber, não consigo pagar minha dívida no banco, tento negociar e não consigo, meu pai tenta negociar e não consegue, o pessoal que eu vendi uns terrenos tentam negociar e não conseguem. Estranho isso.

Aí, vai pra leilão sem eu saber, não sou notificado, fico sabendo por terceiro; advogados de São Paulo entram em contato comigo dizendo que tenho que entrar na justiça e derrubar o leilão, que são especialistas, entram na justiça e nada acontece; vai pra leilão, os moradores e meu pai tentam arrematar e não conseguem, perco tudo, tenho vários terrenos vendidos para pessoas de bem, muitos tendo somente esse patrimônio… O que eu faço, meu Deus?

Não consigo dormir. Penso nos moradores, nas famílias todos os dias. Não “caiu a ficha’ ainda. Parece um pesadelo.

Depois ainda me dizem que a diferença entre o valor do leilão e a dívida eu teria direito a cerca de R$ 350 mil e o dinheiro foi parar sei lá aonde. Mas esse dinheiro eu não quero. Eu quero é que seja resgatada a minha dignidade. Que eu possa honrar os compromissos que assumi com as famílias. Esse dinheiro pra mim, é maldito,

Redação
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